A Música é uma Arte presente em todas as culturas e no quotidiano dos seres humanos. É uma linguagem universal que assume uma muito singular forma de criatividade. A música é uma prática social comunicativa e expressiva. A partir do ouvir e através da produção sonora em conjunto do cantar, do tocar, do compor, do olhar, do escutar, as crianças e jovens dialogam e constroem significados, partilhando-os e transformando-os, enriquecendo assim as suas práticas e horizontes culturais, em consonância com as diferentes Áreas de Competências do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA). A música existe no conjunto, no fazer e partilhar com os outros, no dialogar, na pergunta-resposta, e em inúmeros pequenos rituais que fazem parte do nosso quotidiano coletivo. E é exatamente no desenvolvimento de experiências concretas em interação com os outros que as crianças e jovens podem desenvolver modos de ser e de pensar abertos ao mundo, e são capazes de dar resposta aos desafios que se lhes colocam nos dias de hoje. No criar e fazer música, as crianças estabelecem inter-relações com os outros e com o mundo que têm exatamente esse caráter de imprevisibilidade, complexidade e mudança. É assim que podemos olhar para a música, como um veículo extraordinário no desenvolvimento de capacidades pessoais e sociais imprescindíveis às vidas das crianças. Desta forma, propõe-se que, à medida que progridem, os alunos aprofundem a sua apreciação, compreensão e desempenho musicais, permitindo criar, recriar e ouvir através do desenvolvimento de competências de experimentação, de improvisação, de composição, de escuta, de reflexão, de movimento, de interpretação (no sentido de performance), contribuindo para a sua formação como sujeitos criadores e fruidores de Música.
Organizadores das Aprendizagens Essenciais
As Aprendizagens Essenciais (AE) apresentadas neste documento para o 1.o Ciclo do Ensino Básico foram estruturadas a partir de três Domínios/Organizadores comuns à Educação Artística:
- Experimentação e criação;
- Interpretação e comunicação;
- Apropriação e reflexão.
Experimentação e criação: Pretende-se que os alunos desenvolvam competências de exploração/experimentação sonoro-musicais, improvisação (tanto no sentido de variação sobre uma estrutura musical pré-existente, como de criação/composição em tempo real) e composição musical. É de salientar que foi dada particular relevância a esta dimensão de experimentação/criação, visto considerar-se um domínio basilar para aprendizagens significativas.
Interpretação e comunicação: Pretende-se que os alunos desenvolvam competências relativas à performance/execução musical, ou seja, cantar, tocar, movimentar, bem como as relativas a formas de comunicar/partilhar publicamente as performances e/ou criações.
Apropriação e reflexão: Pretende-se que os alunos desenvolvam competências referentes a processos de discriminação, análise, comparação de elementos sonoro-musicais com o propósito de permitir escolhas fundamentadas em relação ao fazer e ao ouvir musical, através de uma reflexão crítica sobre os universos musicais. Também existe neste organizador uma preocupação na apropriação de terminologia e vocabulário específico da Música, visto permitir o domínio das convenções musicais, útil na compreensão e na reflexão crítica.
A voz e o corpo da criança, bem como os objetos do seu quotidiano, são os recursos privilegiados para o desenvolvimento musical neste ciclo de ensino. As atividades musicais deverão ser exploradas a partir dos elementos musicais de melodia, harmonia, ritmo, pulsação, divisão, métrica, dinâmica, textura, forma e timbre. Contudo, dever-se-á ter em conta que a experiência musical é holística, total, portanto, os elementos musicais anteriormente referidos deverão ter um papel clarificador, facilitador e sistematizador da escuta, da prática e da criação musicais dos alunos.
Os três Domínios/Organizadores expostos anteriormente foram elaborados de acordo com o currículo da Música presente em documentos do Ministério da Educação para os diferentes ciclos de ensino. O modelo curricular contempla três grandes áreas interdependentes, designadamente a Audição, a Interpretação e a Criação/Composição. Conciliou-se o currículo da Música em vigor com os organizadores comuns da Educação Artística, por um lado, por se enquadrarem conceptualmente nos três domínios/organizadores musicais mencionados e, por outro lado, para facilitar a transversalidade das áreas do conhecimento, uma vez que proporciona o cruzamento entre conceitos e competências das diferentes artes, apesar das diferenças intrínsecas de cada área artística. Os referidos organizadores não são encarados como áreas estanques, sendo as atividades de sala de aula uma combinação dos mesmos, como exemplificado no esquema seguinte:
Por exemplo, a interpretação de uma canção obriga a uma identificação e a um reconhecimento de elementos musicais, a reprodução de motivos e frases musicais e, simultaneamente, de escolhas de intencionalidades expressivas, sendo uma atividade onde se intercetam apropriação, interpretação e criação.
Aprendizagens Essenciais por ciclo
Na elaboração das AE optou-se pela apresentação das competências por ciclos e não por anos de escolaridade, estando as referidas competências estabelecidas para o final de cada ciclo educativo, visto entender-se que só no fim de cada ciclo se mobilizam plenamente conhecimentos, capacidades e atitudes de cada organizador. Também se considera que as aprendizagens podem ter ritmos de aquisição a diferentes níveis: do aluno, da turma, da escola, da comunidade educativa. De seguida, procurar-se-á ilustrar uma situação prática que elucide esta opção. No 1.o Ciclo do Ensino Básico (1.o CEB), no organizador “Interpretação e comunicação”, uma das competências é: “Canta, a solo e em grupo, da sua autoria ou de outros, canções com características musicais e culturais diversificadas, demonstrando progressivamente qualidades técnicas e expressivas”. Uma criança do 1.o ano do 1.o CEB, de uma determinada escola e região do país, pode estar preparada para realizar tarefas bastante complexas, próprias para um final de ciclo, em termos do canto, enquanto outra, da mesma turma, escola e localidade, ainda pode estar num nível de iniciação neste mesmo domínio musical. Esta formulação permite ao docente adequar as suas estratégias, tanto para uma como para a outra criança, respeitando os seus níveis de desempenho e capacidades de aprendizagem. Contudo, este professor terá como meta que ambos os alunos atinjam esta competência no final do 1.o CEB, independentemente do seu ponto de partida/conhecimento inicial.
Acrescenta-se que na elaboração destas AE pressupôs-se que os saberes de qualquer ciclo podem e devem continuar a ser mobilizados em ciclos posteriores.
Experimentar sons vocais (voz falada, voz cantada) de forma a conhecer as potencialidades da voz como instrumento musical.
Explorar fontes sonoras diversas (corpo, objetos do quotidiano, instrumentos musicais) de forma a conhecê- las como potencial musical.
Improvisar, a solo ou em grupo, pequenas sequências melódicas, rítmicas ou harmónicas a partir de ideias musicais ou não musicais (imagens, textos, situações do quotidiano, etc.).
Criar, sozinho ou em grupo, ambientes sonoros, pequenas peças musicais, ligadas ao quotidiano e ao imaginário, utilizando diferentes fontes sonoras.
As ações estratégicas delineadas decorrem do princípio de que a Música é uma arte performativa e na sua operacionalização deverá privilegiar-se a diversidade de situações educativas que contemplem atividades em grande grupo, pequeno grupo, pares e individualmente.
Promover estratégias que envolvam:
- a organização de atividades artístico-musicais onde se possam revelar conhecimentos, capacidades e atitudes;
- experiências sonoras e musicais que estimulem a apreciação e fruição de diferentes contextos culturais;
- a memorização e a mobilização do conhecimento em novas situações; a reflexão crítica sobre o que foi feito, justificando os seus comentários.
Promover estratégias que envolvam por parte do aluno:
- a imaginação de soluções diversificadas para a criação de novos ambientes sonoros/musicais;
- o desenvolvimento do pensamento crítico, face à qualidade da sua própria produção musical e à do meio que o rodeia;
- a manifestação da sua opinião em relação aos seus trabalhos e aos dos pares;
- o cruzamento de diferentes áreas do saber.
Promover situações que estimulem:
- o questionamento e a experimentação de soluções variadas;
- o planeamento, a organização e a apresentação de tarefas;
- a seleção e a organização de informação.
Promover estratégias que requeiram por parte do aluno:
- a interação com o professor, colegas e audiências, argumentando as suas opiniões, admitindo e aceitando as dos outros;
- a inclusão da opinião dos pares para a melhoria e aprofundamento de saberes;
- o entendimento e o cumprimento de instruções.
Promover estratégias que envolvam por parte do aluno:
- a seleção e organização de diversas fontes sonoras de acordo com a sua intenção expressiva;
- a utilização de vários processos de registo de planeamento, de trabalho e de ideias.
Promover estratégias que impliquem:
- a consciência e o progressivo domínio técnico da voz e dos instrumentos na performance musical;
- a utilização dos elementos expressivos da música;
- o rigor na comunicação.
Promover estratégias que impliquem por parte do aluno:
- a procura de soluções diversificadas como resposta a situações várias;
- a indagação de diversas realidades sonoras para a construção de novos imaginários.
Promover estratégias que proporcionem oportunidades para o aluno:
- colaborar constantemente com os outros e ajudar na realização de tarefas;
- apresentar soluções para a melhoria ou aprofundamento das ações;
- interagir com o professor e colegas na procura do êxito pessoal e de grupo.
Promover estratégias e modos de organização que impliquem por parte do aluno:
- a assunção de responsabilidades relativamente aos materiais e ao cumprimento de regras, como por exemplo, saber esperar a sua vez, seguir as instruções dadas, ser rigoroso no que faz;
- a autoavaliação do cumprimento de tarefas e das funções que assume.
Promover estratégias de envolvimento em tarefas com critérios definidos, que levem o aluno:
- a identificar os pontos fortes e fracos das suas aprendizagens e desempenhos individuais ou em grupo;
- a descrever os procedimentos usados durante a realização de uma tarefa e/ou abordagem de um problema;
- a mobilizar as opiniões e críticas dos outros como forma de reorganização do trabalho;
- a apreciar criticamente as suas experiências musicais e as de outros.
Conhecedor/ sabedor/ culto/ informado (A, B, G, I, J)
Criativo/Crítico/ Analítico (A, B, C, D, G, J)
Indagador/ Investigador (C, D, F, H, I)
Respeitador da diferença/ do outro (A, B, E, F, H)
Sistematizador/ organizador (A, B, C, I, J)
Comunicador (A, B, D, E, H)
Questionador (A, F, G, I, J)
Participativo/ colaborador (B, C, D, E, F)
Responsável/ Autónomo (C, D, E, F, G, I, J)
Autoavaliador (transversal às áreas)
Interpretar rimas, trava-línguas, lengalengas, etc., usando a voz (cantada ou falada) com diferentes intencionalidades expressivas.
Cantar, a solo e em grupo, da sua autoria ou de outros canções com características musicais e culturais diversificadas, demonstrando progressivamente qualidades técnicas e expressivas.
Tocar, a solo e em grupo, as suas próprias peças musicais ou de outros, utilizando instrumentos musicais, convencionais e não convencionais, de altura definida e indefinida.
Realizar sequências de movimentos corporais em contextos musicais diferenciados.
Comunicar através do movimento corporal de acordo com propostas musicais diversificadas.
Apresentar publicamente atividades artísticas em que se articula a música com outras áreas do conhecimento.
Comparar características rítmicas, melódicas, harmónicas, dinâmicas, formais tímbricas e de textura em repertório de referência, de épocas, estilos e géneros diversificados.
Utilizar vocabulário e simbologias convencionais e não convencionais para descrever e comparar diversos tipos de sons e peças musicais de diferentes estilos e géneros.
Pesquisar diferentes interpretações escutadas e observadas em espetáculos musicais (concertos, bailados, teatros musicais e outros) ao vivo ou gravados, de diferentes tradições e épocas, utilizando vocabulário apropriado.
Partilhar, com os pares, as músicas do seu quotidiano e debater sobre os diferentes tipos de música.
Produzir, sozinho ou em grupo, material escrito, audiovisual e multimédia ou outro, utilizando vocabulário apropriado, reconhecendo a música como construção social, património e fator de identidade cultural.