As aprendizagens essenciais (AE) foram redigidas tendo por base o documento curricular em vigor, em articulação com as áreas de competências que se pretendem desenvolver ao longo da escolaridade obrigatória, em conformidade com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA).
Identificam-se três grupos de desenvolvimento de competências: dois relativos a conteúdos específicos e um relativo à produção de resultados.
O primeiro bloco de aprendizagens é constituído por três temas. O tema um, dedicado à antropologia como ciência, promove a aquisição de ferramentas teóricas e metodológicas necessárias ao trabalho etnográfico. Organiza-se através da metodologia de projeto. O segundo permite a compreensão das sociedades como construções culturais, desenvolvendo uma visão holística e integradora das especificidades culturais. O terceiro tema orienta-se para as formas de poder, dominação e resistência, mobilizando os recursos locais (associações, organizações, grupos) para a análise de contextos globais (análise de debates contemporâneos).
No segundo bloco de aprendizagens, estudam-se as sociedades contemporâneas na sua pluralidade. É dado enfoque: à construção social dos sentidos e das emoções; às linguagens do corpo; à construção da noção de etnia e identidade, desigualdades, democracia e cidadania, formas de poder, controlo, vigilância, turismo e património cultural, memória social, hegemonia e contra hegemonia. Aborda-se ainda a questão da sustentabilidade nos seus diferentes prismas, que envolvem todas as áreas de estudo deste nível de ensino (ecologia, alterações climáticas, entre outros, que são abordados noutras disciplinas e que a perspetiva antropológica irá enriquecer).
O terceiro bloco visa a consolidação dos conhecimentos adquiridos através da realização de um trabalho final e sua
apresentação, como resultado de trabalho de pesquisa bibliográfica, empírico e analítico desenvolvido ao longo do ano letivo.
Para os dois blocos principais destacam-se seis temas, cada um com um conjunto de conhecimentos, capacidades e atitudes discriminadas em objetivos específicos e com as respetivas ações estratégicas de ensino.
Este terceiro bloco consubstancia-se na seleção, por parte dos alunos, de um dos seis temas para trabalhar ao longo do ano, de preferência em relação com outras disciplinas (Antropologia Visual para a opção de Artes Visuais, Antropologia biológica e ambiental para as opções de Científico-Naturais, por exemplo). O tema selecionado será objeto de pesquisa empírica antropológica, com recurso à metodologia de trabalho de campo etnográfico, sempre com base em recolhas bibliográficasdiversas e com os debates providenciados em aula, quer no tema escolhido, quer noutros que com ele se relacionem. A apresentação final do trabalho envolverá, potencialmente, a comunidade local num momento de partilha do conhecimento com o universo populacional com o qual se trabalhou empiricamente. Neste sentido, a avaliação contínua e final são obrigatoriamente confluentes.
Em concreto, conforme ao que foi exposto nos parágrafos anteriores, a cada bloco de aprendizagens (BLOCO 1, BLOCO 2) corresponde um conjunto de temas (TEMAS 1,2,3, 4,5 e 6). O BLOCO 3, destinado ao processo de avaliação contínua e final, é aqui assumido como Bloco de Aprendizagens, uma vez que o processo de elaboração do trabalho final é uma aprendizagem importante per se:
BLOCO 1____ ANTROPOLOGIA E OS SEUS DOMÍNIOS CIENTÍFICOS (TEMAS 1, 2 e 3)
BLOCO 2____ GRUPOS HUMANOS E GLOBALIZAÇÃO (TEMAS 4, 5 e 6)
BLOCO 3____ ETNOGRAFIA E PARTILHA (AVALIAÇÃO CONTÍNUA E FINAL)
Identificar formas e experiências de vida diversas, construindo uma visão holística dos processos culturais.
Conhecer técnicas de recolha etnográfica e analisar resultados de pesquisa.
Mobilizar diferentes fontes de informação para responder às questões colocadas na investigação.
Metodologia de projeto: elaboração de pergunta de pesquisa; seleção de fontes diversas (pesquisa bibliográfica em bibliotecas dentro e fora do espaço escolar, na Internet, em arquivos locais se existentes, etc); técnicas de recolha etnográfica aplicadas ao projeto (diário de campo, fotografia, mapas, registo áudio, registo vídeo, desenho, recolhas orais, outros).
A, B, C, D, F, I
Compreender a inscrição cultural no ciclo de vida individual e biológico.
Evidenciar as dimensões rituais do ciclo de vida individual e a sua ordem social.
Identificar a presença do ritual em múltiplas dimensões da vida social.
Analisar a memória social como processo, mostrar a articulação entre memória individual e memória social.
Analisar as dimensões coletivas e públicas da construção de uma “memória oficial”.
Mostrar diferenças entre diversos procedimentos da construção e conservação da memória: oralidade, escrita, rituais, cerimónias, etc.
Analisar criticamente o conceito de tradição, e discutir a sua importância nas crises identitárias.
Efetuar levantamentos sobre ritos de passagem: nascimento, puberdade, casamento, morte.
Analisar a inscrição do ciclo de vida biológico e individual no tempo mais longo do grupo de pertença, através de rituais como os dos aniversários de família, festas, funerais, e mostrar como eles estão ligados à preservação das relações sociais.
Abordar a presença do ritual na vida quotidiana, exemplificando com elementos das “regras de etiqueta”, ou com exemplos retirados da vida religiosa ou da vida pública (tomadas de posse, comícios, etc.)
Recolha de pequenas “histórias de vida” ou relatos autobiográficos de sujeitos mais velhos, familiares ou próximos dos alunos. Com base nos mesmos, identificar e analisar a articulação entre o individual e o social, a recordação e a identidade.
Abordagem de meios de construção de uma memória no próprio contexto escolar (arquivos de escola, construção de mitos internos, etc).
Construção de memória no contexto familiar (álbuns de família, campas e sepulturas, celebrações e formas de registo, transmissão de recordações, etc).
Abordagem de meios de construção pública de uma memória histórica (25 de abril, dia de Portugal, 5 de outubro, feriados locais, etc).
A, B, C, D, E, F, I
Reconhecer a articulação entre as diversas formas de poder.
Mostrar como as ideologias se apresentam como totalidades (visões do mundo, constituindo sistemas culturais).
Assinalar as relações entre uma perspetiva dominante e outras visões do mundo.
Assinalar a pluralidade de visões do mundo no âmbito da sociedade.
Evidenciar a presença de representações culturais ligadas à dominação e representações críticas da mesma.
Reconhecer a importância da perspetiva interdisciplinar no estudo destes temas.
Reconhecer a existência do conflito e do consenso como componentes definidoras da vida social.
Identificar formas de conflito e de resistência.
Evidenciar as especificidades dos movimentos sociais contemporâneos.
Recolha de documentação impressa: jornais, material bibliográfico, material literário referente a contextos de sátira sobre as visões hegemónicas (romanceiros, romances, contos, peças de teatro, poesia popular e erudita, como as “cantigas de escárnio e maldizer”, música popular e movimento hip hop – RAP, Break dance, grafiiti) e de manifestações de paródia de visões dominantes (como as que têm lugar no Carnaval, nas suas várias manifestações nacionais e internacionais).
Utilização de recursos disponíveis online para a análise destes tópicos da atualidade.
Recolha de documentação e de narrativas sobre conflitos.
Recurso aos debates contemporâneos em curso, como por exemplo a questão das falsas notícias, convocando fontes em escalas diferenciadas como discurso político, discurso mediático e discurso académico e “estudos”.
Abordagem do meio associativo local e ação coletiva (desportivo, musical, solidariedade social, etc).
A, B, C, D, E, F, I
Conhecer as diferentes espécies de Homo existentes anteriormente e por vezes contemporâneas ao Homo Sapiens.
Compreender a mudança epistemológica entre o evolucionismo darwinista e as atuais formas de entender a evolução humana.
Detetar elementos essenciais sobre as formas de aprendizagem do Homo Sapiens no domínio da linguagem e teorias existentes sobre aparecimento da linguagem.
Legitimar a importância da aprendizagem na transmissão cultural do conhecimento.
Distinguir elementos essenciais sobre as formas de aprendizagem técnica do Homo Sapiens.
Mostrar a transição de uma tecnologia lítica simples para uma tecnologia lítica associada a comportamentos simbólicos.
Reconhecer a diversidade dos grupos humanos através de aspetos da cultura material.
Cartografia da dispersão e distribuição espacial dos “primeiros” grupos humanos.
Mapeamento internacional dos locais atuais de pesquisa sobre evolução humana e principais achados.
Discussão do conceito de raça na ciência ao longo do século XX, seu silenciamento temporário e seus novos usos sociais.
Visita de estudo virtual aos grandes museus que se dedicam ao estudo da evolução humana e às ferramentas líticas.
Visita de estudo ao LABOH (Laboratório de Antropologia Biológica e Osteologia Humana, Nova).
Debate sobre possíveis identificações de comportamentos/posturas entre primatas não humanos e humano.
Mapeamento de grupos humanos onde se identifiquem grandes tendências de práticas culturais aparentemente difundidas ou com funções idênticas em diferentes partes do mundo.
A, B, C, D, E, F, I
Compreender a forma como são construídas e adotadas perspetivas etnocêntricas em relação ao “outro”.
Analisar a adoção de práticas discriminatórias individuais e coletivas e atitudes de intolerância.
Reconhecer os processos de globalização e suas implicações culturais, sociais, políticas.
Compreender como o sistema-mundo subentende uma ordem mundial assente na exploração de recursos e na sua distribuição diferenciada e desigual.
Identificar os tipos de vínculo decorrentes dos impérios coloniais e suas implicações no mundo contemporâneo.
Diferenciar aspetos da descolonização ao nível dos vários momentos de independência e ao nível dos processos. Entender o turismo na sua relação com a história colonial e pós-colonial.
Distinguir processos de patrimonialização e seus diferentes envolvimentos com as populações produtoras de práticas culturais materiais e imateriais.
Levantamento de fontes mediáticas, políticas e académicas sobre populações vítimas de preconceito em Portugal, nomeadamente afrodescendentes e ciganos.
Debate em formato Prós e Contras com base no levantamento realizado.
Contacto com associações de imigrantes em Portugal e outros movimentos sociais associados à defesa dos direitos de cidadania.
Documentário com guião de visualização e posterior debate sobre processos associados a discriminação racial.
Recolher dados sobre civilizações previamente à chegada dos povos colonizadores, bem como dados gerais sobre escravatura.
Recolher nas famílias histórias associadas aos processos de descolonização.
Recolher no Google imagens (quadros, esculturas) clássicas produtoras da ideia de “outro”.
Mapear processos de patrimonialização em Portugal (exemplos: Cola San Jan, Chocalhos, Fado) e idealmente perto da comunidade local.
Encontrar vídeos no Youtube que se refiram a processos de patrimonialização.
Contactar com investigadores dedicados aos processos de patrimonialização.
Levantamento ao nível familiar das relações com a produção agrícola visando debate sobre os “novos rurais”.
Mapeamento de iniciativas nacionais (ou locais se consistentes) relativas a sustentabilidade ambiental (exemplos: movimento zerowaste; energia solar e eólica; mobilidades não poluentes, entre outros).
A, B, C, D, E, F, I
Identificar processos de diferenciação cultural e debates
contemporâneos associados aos movimentos LGBTI.
Reconhecer a importância da história do feminismo e seus
passos principais nos debates atuais de género e direitos de
género.
Distinguir tipos de organização familiar, destacando modelos
clássicos de parentesco.
Compreender a diversidade atual nos modelos de família.
Analisar os usos do corpo – profissional, identitário, alterações
do corpo físicas e psicóticas.
Filme de ficção com guião de visualização e posterior debate sobre a pessoa transexual.
Mapeamento das fases do feminismo ao longo da história e suas pontes com a Antropologia.
Recolher depoimentos em redes sociais sobre desigualdade de género e de identidade sexual.
Recolher entrevista ao nível das amizades sobre modelos familiares existentes na turma.
Debate sobre prostituição com convite externo a antropólogo (ou outro cientista social) especialista no tema do trabalho sexual.
Pesquisa sobre tatuagens na atualidade, moda e recursos imagéticos.
Levantamento sobre drogas duras e leves e diferentes perspetivas culturais e históricas sobre drogas e álcool.
A, B, C, D, E, F, I